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Cresci aprendendo que polícia é uma coisa ruim.

Os policiais do Rio de Janeiro, até pouco tempo, escondiam a identidade funcional fora de serviço, temendo a morte certa se abordados por bandidos.

Carlos Nascimento
Por: Carlos Nascimento
08/01/2020 às 13h44
Cresci aprendendo que polícia é uma coisa ruim.
ser policial

Cresci aprendendo que polícia é uma coisa ruim. No meu círculo social ninguém era policial. Polícia era para ser temida; delegacias eram lugares tenebrosos. A palavra camburão inspirava imagens de regime militar e autoritarismo.

Na escola nunca me explicaram a função da polícia, sua organização ou que benefícios ela gerava. Em absolutamente todos os livros, filmes, gibis, programas de televisão, peças de teatro e músicas que eu ouvia polícia significava opressão, violação de direitos, extorsão ou tortura 

Nos mitos e lendas urbanas da minha adolescência, nos anos 70, os heróis eram foras-da-lei, marginais ou “guerrilheiros”, santificados por uma suposta rebeldia contra o “sistema”. E o sistema era, principalmente, a polícia. Era bonito enganar “os homens”. Era bonito ser bandido. 

Uma das obras mais famosas do artista plástico Hélio Oiticica mostrava o bandido Cara-de-Cavalo, famoso nos anos 60, estendido no chão. Título da obra: “Seja Marginal, Seja Herói”. 

No final da minha adolescência Brizola chegou ao governo do Rio, e a mídia formou um bloco sólido dedicado a denunciar, sem tréguas, a violência e a corrupção da polícia. Os relatos de pessoas mortas por policiais, presas sem razão ou torturadas enchiam os jornais. 

Nossos heróis eram os que enfrentavam, desmascaravam e derrotavam a polícia: os militantes de esquerda, os sociólogos, os donos de ONGs e a Anistia Internacional.

Nunca, jamais, em tempo algum, da minha infância até os meus 27 anos, vi alguém defendendo ou elogiando a polícia. 

Nunca ouvi alguém explicando que a polícia era necessária e que, na maior parte dos casos, cada sociedade tem a polícia que deseja. Tive que mudar de país para ver isso.

Fui morar nos EUA e descobri que a polícia é um dos fundamentos de uma sociedade livre. 

Nenhuma polícia – nem as dos Estados Unidos – é formada por santos. Basta lembrar da história de Serpico, ou entender como as delegacias de polícia em Nova Iorque na virada do século XIX para o XX eram centros de corrupção e uso político da força. 

Corrupção e abuso existem em todas as instituições. A polícia reflete a sociedade que a criou.

Nos EUA o policial mora ao seu lado. No Brasil, em geral, ele mora em um subúrbio longínquo, ou em uma “comunidade carente” (eufemismo para favela), ao lado de criminosos. 

Os policiais do Rio de Janeiro, até pouco tempo, escondiam a identidade funcional fora de serviço, temendo a morte certa se abordados por bandidos.

A transformação da polícia dos EUA em força em defesa da cidadania começou quando os salários melhoraram. 

Voltei para o Brasil entendendo para que serve a polícia, e cheio de perguntas.

A polícia nos EUA é essencialmente municipal. Por que no Brasil é apenas estadual e federal?

A lei penal dos EUA também é estadual. Por que no Brasil é federal? 

O trabalho policial no Brasil é dividido entre duas forças. Uma patrulha as ruas – a Polícia Militar – e a outra investiga os crimes – a Polícia Civil.

Por que? Nunca me explicaram isso, na escola, na faculdade ou em outro lugar qualquer. 

Tive que estudar para entender como funciona – ou não funciona – nossa polícia, a justiça criminal e o sistema penitenciário. O que vi me deixou horrorizado. Não vou repetir aqui as estatísticas que todos já deveriam conhecer. 

O que quero saber é: por que a sociedade brasileira tem ojeriza aos policiais, se eles são a última defesa contra a barbárie?

Vimos na TV as decapitações e os churrascos humanos das rebeliões dos presídios. Fazem isso presos; imagine o que farão soltos.

Quem vai enfrenta-los? 

Como podemos ter, um dia, uma boa polícia se a opinião unânime da mídia, da academia e dos intelectuais é que polícia é uma coisa ruim e os criminosos são pobres vítimas da sociedade? 

Por que tanta gente sensata e preparada se mobiliza com o “drama” dos criminosos presos, mas é insensível ao drama de uma sociedade onde todos já foram assaltados e vivem com medo? 

Por que achamos que alguém ser assaltado, agredido, roubado de sua propriedade ou até morto, é justo e compreensível à luz da "justiça social"?

Como aceitamos, passivos, alguém dizer que "existe lógica no assalto"?

Que perversão moral e intelectual é essa? 

No Brasil o debate sobre polícia é monopólio dos "especialistas" de sociologia de botequim, como a senhora de cabelo vermelho que criou a separação de criminosos nos presídios de acordo com a facção – facilitando sua organização e transformando as cadeias em escritórios do crime 

A questão fundamental é: se a polícia é um dos fundamentos de uma sociedade civilizada, por que a desprezamos tanto?

Se tratamos a polícia como lixo, quem vai nos proteger? 

Há muitos anos os Titãs, uma das melhores bandas de rock do país, compôs a música Polícia, cujo refrão era “polícia para quem precisa, polícia para quem precisa de polícia”. 

Alguns anos depois a namorada do baterista dos Titãs foi sequestrada e levada para um cativeiro na favela do Vidigal.

Adivinhe quem a libertou do cativeiro?

Não foi o Batman.

Não foi o Che Guevara.

Não foi a especialista de cabelo vermelho. 

Ela foi libertada por agentes da divisão Antissequestro.

Ela foi libertada – imaginem vocês – pela polícia.

A única garantia da liberdade e da vida é a força das armas nas mãos das pessoas certas.

O resto é veneno ideológico de quem ganha vida explorando a ignorância dos ingênuos.

"Você Não Soube Me Amar: Polícia, Intelectuais e Ideologia", texto do meu livro Jogando Para Ganhar.

Roberto Motta é engenheiro civil (PUC-Rio) e pós-graduado no Mestrado Executivo em Gestão Empresarial pela FGV-RJ. Tem experiência como executivo de grandes empresas no Brasil e EUA nas áreas de tecnologia da informação, desenvolvimento de negócios e gestão empresarial. Fundador e ex-membro do Partido Novo, mantém o site "https://robertobmotta.com" 

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