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Batatinha: 100 anos do grande cancionista da tristeza

Palmas para Batatinha, a quem não podemos esquecer.

03/08/2024 às 18h44 Atualizada em 03/08/2024 às 19h07
Por: Carlos Nascimento Fonte: Marlon Marcos Poeta
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Batatinha: 100 anos do grande cancionista da tristeza

A manhã desse dia é para falar com os acordes e os poemas da tristeza com alegria. É para agradecer ao deus da música e aos desígnios do destino a presença nobre de unia vida eternizada pelo samba.

É para abrir os salões festivos de nossas casas e, com o pedido de licença devido, exercer o direito de sambar. É Cantar, Louvar, Contemplar. Reviver. Salvador é a cidade dos grandes poetas populares inclinados à canção. É a terra preta, de uma gente preta talentosa, iluminada pelo labor e pela inspiração. As águas da Baía de Todos-os-Santos molham o rosto ancestral de um poeta nascido entre nós e que nos levou para o mundo nos caminhos do seu talento e no ecoar da voz de cantores como Jamelão e Maria Bethãnia.

A 5 de agosto de 1924 nascia, em Salvador, Oscar da Penha, aquele que se tornaria o nosso Batatinha e que nesse mês faria 100 anos de existência. O homem negro e pobre, que começou a trabalhar como marceneiro desde os 10 anos, foi office boy do Diário de Notícias aos 18, e nesse mesmo jornal, trabalhou toda uma vida como tipógrafo.

Casou e teve nove filhos. Elegante, discreto, bonito como as noites estreladas, dedicado a escrever canções dedicadas ao nosso Carnaval. Canções carnavalescas banhadas de tristeza. Tristeza vivida em urna trajetória de muita luta, pouco reconhecimento, esquecimento em vida, batalhas contínuas contra a pobreza e o racismo, poucas oportunidades e, ainda assim: a beleza de uma arte incontornável.

Falar em Batatinha é a traçar na pele e na alma esses vemos: "Todo mundo vai ao circo, / menos eu, menos eu/ Como pagar ingresso, se eu não tenho nada,/ Fico de fora escutando a gargalhada", uma critica social potente que servia para embalar nossos corpos dançantes e gritar contra esse sistema de aporofobias e exclusões. Uma crítica ecoada nacionalmente pelas vozes de Maria Bethãnia (a grande divulgadora da obra de Batata) e de Nara Leão. Ah, Nara, outra grandiosa inesquecível!!! Batatinha e o grande expoente do samba feito na Bahia. O samba melodioso, inspirado no samba carioca, com letras bem feitas e de teor existencialista.

Navegar pela obra de Batatinha é mergulhar na poética da melancolia, nas feridas acesas do sentimento do mundo, da paixão não correspondida, do abandono social, da tristeza como razão do ser: "Se eu deixar de sofrer como é que vai ser para me acostumar". O ser de Batatinha repousado na voz do mestre Caetano, dando a tônica de que no fundo, bem no fundo, o carnaval é a festa da incontida tristeza sendo feita para combate-la, mas ela persiste na melodia do samba.

Palmas para Paquito e Jota Velloso que reluziram a obra do nosso centenário, produzindo o belíssimo Diplomacia, em 1997, lançado um ano após a morte de Batata, e que traz a participação de nomes estrelares como Maria Bethãnia, Caetano Veloso, Chico Buarque.

Palmas para Batatinha, a quem não podemos esquecer.

Marlon Marcos Poeta, Jornalista, antropólogo, professor da Unilab

Contato: [email protected]

Publicado no Jornal A Tarde, (Coluna do autor), edição de 03.08.2024.

MPB Especial com Batatinha

Programa em comemoração aos 90 anos do sambista baiano, exibido originalmente em 1974.

xxxxxx
XXXXXEnsaio | Batatinha | 1995
(O sambista Batatinha fala de sua vida desde os 10 anos de idade e conta como começou a compor. Ao relembrar sua história, traz de volta grandes nomes da MPB, lembrando sucessos de Lupicínio Rodrigues, Orlando Silva, Dorival Caymmi, Assis Valente, Pixinguinha e Ataulfo Alves. Recria também a velha Bahia, quando se recorda da rua dos Camepiros, onde morou, e do Centro Histórico da época dos bondes e vendedores de amendoim torradinho e acarajé. Batatinha nasceu Oscar da Penha, em Salvador, no ano de 1924, em uma família bastante modesta. Foi introduzido no meio musical do Rio de Janeiro e São Paulo por Jamelão, que gravou sua composição "Jajá da Gamboa" em 1960. Quatro anos mais tarde, participaria do lendário show Opinião através da voz de Maria Bethânia, que canta "Diplomacia", parceria de Batatinha com J. Luna. Seu primeiro disco foi lançado em 1973, junto de Riachão e Panela, outros dois compositores baianos.)
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